PORQUE SE FALA TÃO POUCO SOBRE ELE?
Logo que eu me tornei mãe e que vivi alguns momentos difíceis da maternidade me perguntei por que ninguém nunca havia me alertado que esse lado B também existe. Toda vez que eu conversava com uma mãe, ela se derretia em elogios ao filho, dizia como sua vida tinha mudado para melhor, como pela primeira vez na vida estava vivendo um amor incondicional e como era maravilhoso, soberbo, estupendo, incrível, inexplicável ser mãe.
Sim, tudo isso é verdade, por outro lado, nunca nenhuma delas me chamou num canto e disse: “olha só amiga, quero te contar uma coisa, ser mãe é tudo de bom, mas também tem uma parte bem difícil e chata, e você vai ver as duas coisas. Com certeza!”.
O máximo da parte difícil que eu havia ouvido era: você vai sentir sono, muito sono, vai morrer de sono e nunca mais vai dormir direito na sua vida. Ou, então, o famoso: no início dói para amamentar.
Ponto final! Foi só isso que me disseram. Foi só sobre isso que fui alertada. Sobre tantas coisas que depois eu iria viver, e que com certeza muitas de vocês também viveram ou viverão, ninguém nunca me falou nada.
Nunca ninguém abriu a boca para me dizer que amamentar era muito, muito, muito difícil. Que não era só o bebê nascer, abocanhar o peito, sugar e se alimentar. Que podia ter N fatores que iriam prejudicar a amamentação e que talvez eu não fosse conseguir amamentar como gostaria. Também nunca me alertaram que no início as coisas são muito, mas muito difíceis. Que não é só o não dormir direito, mas é o não dormir, não comer, não tomar banho, não escovar os dentes, não fazer xixi.
E mais do que isso, tem ainda outra coisa muito importante. Também nunca haviam me dito que tem horas que a gente simplesmente enche o saco. Que tem momentos que a gente secretamente se pergunta: Por que tudo tem que ser tão difícil? Por que tenho que estar passando por isso? Por que resolvi ser mãe?
Ah sim, porque tem horas, que mesmo a mãe mais babona, apaixonada, dedicada e mimimi do mundo vai se fazer essa pergunta. Isso porque, sempre haverá um momento em que ela irá chegar no seu limite do cansaço e da paciência.
Agora, volto lá na minha dúvida do início: porque ninguém fala isso? Porque ninguém comenta essas coisas com a gente? Porque todo mundo sempre quer dourar a pílula?
De duas uma: ou querem proteger a futura mamãe do choque que está por vir ou veem essa confissão como algo que as faz menos mãe.
Eu, ando mais inclinada a acreditar que a segunda alternativa é a verdadeira. Que a maioria das mães não mostra o lado difícil das coisas e não confessa que muitas vezes chega no seu limite da sanidade porque acha que fazendo isso irá descer no ranking que elege as melhores mães do mundo. E se tem uma coisa que toda mãe quer ser é a melhor.
Gente, está aí uma coisa ultrapassada, que podia funcionar no tempo das nossas mães e avós, mas hoje em dia não cabe mais.
Estamos no tempo da sinceridade, do ser verdadeiro, do assumir suas falhas e fraquezas sem que isso nos faça menos importantes. Além do mais, hoje, muitas de nós não assumem só o papel de mães, mas também o de profissionais, de voluntárias, de pessoas engajadas na sociedade e por aí afora. Ou seja, quem disse que temos que ser perfeitas como mãe? Quem disse que não podemos confessar que uma hora cansa, que uma hora enche o saco, que uma hora temos vontade de fugir de casa para voltar uns três dias depois? Afinal, é difícil dar conta de tudo, é difícil assumir e conciliar todos os papeis que nos cabem nessa sociedade moderna.
Se alguém tivesse me dito isso antes do Léo nascer, eu teria me culpado menos quando tive esses sentimentos. Só fui descobrir que outras mães também passam por esse momento “saco cheio da maternidade” quando conversei com algumas amigas íntimas e confessei que era isso que eu senti algumas vezes. Aí sim, algumas também confessaram: Ah! é assim mesmo!
Mas então, por que cargas d`’agua nunca me falaram isso antes? Catso!
Gente, então vou dizer, vou deixar bem claro aqui: ser mãe é tudo de bom. Ser mãe é lindo. Ser mãe muda a gente, mudo o mundo, muda tudo para melhor. Mas ser mãe também tem o seu lado B, como tudo na vida.
E ter esses momentos de “putz, tô de saco cheio” não torna ninguém menos mãe. Só a torna humana. Porque vamos ser sinceras, alguém que vê na maternidade uma experiência maravilhosa, edificante, encantadora 100% do tempo, ou está mentindo, ou é de outro mundo. Só acredita que isso é possível quem nunca viveu a experiência de ser mãe.
Talvez irá aparecer mamães por aí para dizer que tudo isso que estou escrevendo é uma bobagem, que não é assim não, que a maternidade é linda, cor de rosa e perfeita. Mas tenho certeza de que em meia hora de conversa vou conseguir arrancar delas pelo menos um exemplo de uma situação em que elas tiveram vontade de arrancar os cabelos e fugir para uma ilha deserta, sem filhos.
A questão é que desses momentos a gente esquece. Na maior parte das vezes. Só os lembra quem ainda os está vivendo. E aí, se culpa, se martiriza, se pune!
Gente, na boa, ninguém é menos mãe porque tem seus momentos saco cheio. E se mais pessoas confessarem isso, em claro e bom som, tenho certeza que a culpa de muitas mães será amenizada.
Bom, estou fazendo a minha parte! Minha confissão está aqui, para quem quiser ver e se conformar! Mas também garanto: apesar dos perregues, dos momentos “putz”, eu faria tudo de novo (e garanto que ainda vou fazer). E não há como negar que o lado B, na grande maioria das vezes, desaparece da nossa memória quando o lado A abre aquele sorrisão.
Por Shirley Hilgert, autora do blog Macetes de Mãe
www.macetesdemae.com
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